Por Dave Treat
A igreja periodicamente redescobre verdades
adormecidas. Não são as elaboradas construções de teólogos mirabolantes, mas
são as simples e profundas chaves que destravam passagens difíceis ou
conceitos. O momento de descoberta é normalmente marcado por uma exclamação
(“dã!”) porque simultaneamente percebemos que estamos vendo algo pela primeira
vez, sendo que ela estava lá o tempo todo. A verdadeira beleza de tais verdades
é a sua persistência; vista uma vez, você não pode “deixar de vê-las”. Elas
filtram, colorem e transformam muito do pensávamos saber.
Tome, por exemplo, a Missio Dei assim demonstrada
no atual diálogo “missionário”. Ao se redescobrir que Deus está trabalhando (e tem
trabalhado a todo o tempo) se remodela a nossa compreensão do nosso propósito
individual e corporativo – nosso chamado e nossa eclesiologia. “A igreja não
tem uma missão, mas é a missão que tem uma igreja. Juntemo-nos a Jesus em sua
missão.” (Ed Stetzer,
parafraseando Moltmann)[1]
Essa percepção de Deus “trabalhando agora” acabou
expandindo a minha compreensão limitada da graça
preveniente.[2] (Por
sinal, John Wesley não inventou a graça preveniente. Deus já a tinha colocado
no campo das ideias. Há uma grande ironia aqui se você estiver disposto a
desenterrá-la).
Considerando a preveniência e a missão como
interligadas e inseparáveis, então quatro implicações nos vêm à mente:
1. Da Iniciante para a Noticiante
Se Deus já está trabalhando no mundo e Jesus já
está trabalhando (através do seu Espírito) nas vidas das pessoas, então a nossa
tarefa não é tanto de iniciá-la senão de noticiá-la. Se cremos que “temos Jesus
conosco” no mundo, então precisamos inventar, criar e catalisar oportunidades
para colocar Jesus neste diálogo. Se Jesus já está aqui precisamos de uma
sensibilidade constante de que ele está presente e o que está fazendo. Logo, a
habilidade menos valorizada de um discipulador é o noticiar; ouvir o Espírito
Santo e prestar atenção nas pistas de como podemos cooperar num processo
contínuo.
2. Da Pretensão para a Revelação
A preveniência pode mudar a nossa pregação de um
modo pretencional (“Isto será verdade”) para um revelacional (“isto já é
verdade”). O missiólogo David Bosch sugere que pregar o Evangelho é “alertar as
pessoas do reinar universal de Deus através de Cristo.” Ele já é Senhor. O
Reino já está aqui. Nós não somos artistas. Somos o expositor puxando o véu da
obra-prima existente.
3. Da Persuasão para a Cooperação
A preveniência enfraquece muito a noção de uma
chamada evangelística impessoal. Atos aleatórios de persuasão (pense: assaltos
apologéticos) escondem a nossa falta de confiança no Espírito Santo. Pense no
“filho da Paz” descrito em Lucas 10. Assim noticiamos (!) aqueles que já são
espiritualmente sensíveis e criamos cooperação onde o Espírito Santo já está
trabalhando, Deus abre redes inteiras de pessoas ainda não alcançadas pelo
Evangelho.
4. Da Assimilação para a Comissão
Se a essência da Missio Dei é a
conscientização da comissão, então a nossa preocupação com a assimilação e a conexão
das pessoas deve mudar. Devemos passar da apreensão para a libertação. Este é o
lugar onde se firma a preveniência: equipar discípulos para noticiar e se
associar é muito diferente de treiná-los para iniciar e persuadir. A diferença
está na verdadeira confiança que Deus já está trabalhando e em deixar que a fé
informe a nossa participação na Missio Dei.
Comentários
Postar um comentário