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O Calvinismo Aparecendo em Lugares Inesperados e Impróprios

O Calvinismo Aparecendo em Lugares Inesperados e Impróprios

Por Roger Olson

Devido a ascensão daquilo que o meu amigo Scot McKnight chama de “neo-puritanismo” (alguns outros têm rotulado de “novo calvinismo” ou apenas “calvinismo ressurgente”) o calvinismo da TULIP está aparecendo em lugares que não lhe são próprios. Os jovens, especialmente, estão lendo John Piper, Mark Driscoll, Matt Chandler, até mesmo Michael Horton, e levam este novo encontro da teologia “doméstica” com eles para dentro das denominações que cresceram ou que congregam. Muitas vezes essas denominações são historicamente avessas ao calvinismo – tal como a wesleyana-holiness, pentecostal e anabatista.

Muitas vezes essas denominações não tiveram a previsão de esperar essa entrada de pessoas “jovens, incansáveis, reformados” e por isso nunca escreveram declarações de fé explicitamente excluindo a TULIP. Todas as suas declarações de fé são contrárias a TULIP, portanto os “cinco pontos do calvinismo” são completamente estranhos a suas histórias e teologias.

Eu recebo e-mails a todo o tempo (tantos que não posso responder) de pastores, leigos, e até mesmo de teólogos (professores de faculdades, universidades e seminários) me informando sobre essa infecção de calvinismo em suas denominações e instituições relacionadas. Geralmente eles querem alguns conselhos sobre como lidar com isso.

Agora, vamos ser claros sobre o que estou falando e sobre o que NÃO estou falando. Muitas denominações são teologicamente-historicamente, confessionalmente calvinistas. É claro que não estou falando delas. Elas são calvinistas onde lhe é próprio!

Então há muitas outras denominações que são teologicamente-historicamente abertas ao calvinismo; o calvinismo é aceito como uma opção real dentro delas. Um exemplo seria certas denominações batistas tal como a Convenção Batista do Sul [EUA]. Não vejo problemas com os calvinistas pertencerem a estas denominações e até mesmo em promover o calvinismo dentro delas – enquanto fizerem isto de forma justa (não deturpando as outras visões ou implicando que o calvinismo é a única teologia cristã legítima).

Finalmente, há denominações que são teologicamente-historicamente enraizadas em movimentos teológicos-espirituais antitéticos ao calvinismo. O que eu quero dizer é que os protótipos dessas denominações (fundadores, principais porta-vozes, etc.) foram contra o calvinismo e todo mundo sabe disso. Algumas delas têm documentos confessionais que excluem o calvinismo. Algumas não têm.  Talvez elas nunca suspeitassem que o calvinismo viesse para dentro delas ou eram denominações não-credais e não-confessionais da “Bíblia somente” que evitam escrever declarações de fé.

Quais são os exemplos de denominações que são teologicamente-historicamente (declarações doutrinárias, protótipos) contra o calvinismo de tal modo que o calvinismo da TULIP não lhes é somente “novo”, mas também contrário ao seu ethos teológico-histórico? Bem, todas as denominações wesleyanas, todas as denominações restauracionistas (cristã/igrejas de Cristo), todas as denominações anabatistas e todas as denominações pentecostais.

Alguns anos atrás um renomado presidente de um líder, de um seminário evangélico independente, um homem que passou a ser fortemente reformado me informou que “você sabia que há pentecostais reformados”. Ele claramente quis dizer pentecostais calvinistas. A minha resposta (tendo crescido entre pentecostais e lido muitos livros sobre pentecostalismo e tendo publicado alguns artigos sobre o assunto) foi que em círculos pentecostais o “pentecostal reformado” significa NADA MAIS que “não-wesleyano, não-perfeccionista”. Em outras palavras, “pentecostais reformados” (um termo errado, mas comumente usado) significa pentecostais que não acreditam numa “terceira definitiva obra da graça” – total santificação nesta vida. Esta é uma das principais divisões entre pentecostais (historicamente falando). Alguns acreditam na total santificação como uma experiência definitiva e subsequente a conversão e batismo com o Espírito e outros não. Mas “pentecostal reformado” definitivamente não quer dizer “pentecostal calvinista”.

Há pentecostais calvinistas? Eu conheci alguns poucos enquanto eu crescia entre pentecostais. Um deles, um jovem pastor e evangelista, afirmou ser “calvinista” SOMENTE porque começou a acreditar na doutrina da “segurança eterna do crente” – uma doutrina rara entre pentecostais e que, por si só, não constitui o “calvinismo”. Então, na realidade, não. Nunca conheci ou ouvi de haver um pastor pentecostal da TULIP ou líder. Se isso existe, isso é uma extrema raridade e anomalia.

O calvinismo da TULIP é absolutamente desconhecido dessas denominações e tradições mencionadas acima. Ainda agora estou recebendo e-mails menonitas, nazarenos, pentecostais, cristão independentes, etc, preocupados, me notificando que muitos pastores jovens entre eles têm adotado o calvinismo da TULIP. Eles estão quase arrancando os cabelos querendo saber como parar essa tendência.

O meu primeiro conselho a eles seria: compre algumas centenas de cópias do Contra o Calvinismo (sinceramente) e passem a esses jovens pastores! Ou exija que os jovens pastores o leiam – ou algo parecido (embora pessoalmente não conheça nenhum livro relativamente leve que faço o que ele faz).

O meu segundo conselho é redescobrir e reanimar as raízes teológico-históricas e ethos da sua denominação deixando claro que o calvinismo da TULIP é algo estrando, se não anátema para ela.

O meu terceiro conselho é para confrontar os jovens pastores (e outros influenciadores) sobre o seu calvinismo da TULIP e deixe claro que eles devem reconhecê-lo como estranho a história e ethos da denominação, se não aos seus padrões doutrinários, e insista que eles devem manter isso como opinião e que não devem promovê-lo como “a” única teologia bíblica que honra a Deus.

Este é exatamente o conselho que pastores, líderes e teólogos calvinistas dariam se a situação fosse invertida. Imagine uma entrada em massa de arminianos, digamos, numa denominação presbiteriana ou reformada! Bem, é claro, muitas delas têm padrões doutrinários que excluem o arminianismo. Ainda que alguma dessas denominações não force cada jota e til dos seus padrões confessionais. Elas permitem uma diversidade limitada – às vezes incluindo algo como o arminianismo. Mas suponha que um monte de jovens agressivos, arminianos apaixonados, de repente inundem essas denominações? Garanto que os seus líderes ficariam nervosos e seguiriam as sugestões citadas acima (sobre como lidar com o problema oposto).

á disse aqui antes, muitas vezes, que valorizo a unidade cristã e a particularidade denominacional. Creio que as denominações devem resistir a influência de modismos e tendências – especialmente aquelas que as mudam totalmente historicamente e teologicamente.

Francamente, pouco define a minha teologia os extremos como “menonita calvinista” ou “pentecostal calvinista” ou “nazareno calvinista”. Estes devem ser oximoros – tal como “arminiano reformado” e “presbiteriano reformado” e “luterano arminiano” e “católico protestante” (ou “protestante católico”). Agora, como já deixei claro muitas vezes (tenho que continuar a repetir aos recém-chegados): não considero os calvinistas menos cristãos que os arminianos ou vice-versa. Mas eles estão errados teologicamente. Da sua perspectiva é o arminianismo que está errado teologicamente (para eu não ser injusto ou ultrajante). Estas não são questões sem importância. É natural que igrejas e instituições para-eclesiásticas tomem uma posição ou contra o calvinismo ou contra o arminianismo – sem quebrar toda a fraternidade e cooperação. É a mesma coisa como o batismo – uma igreja que batiza tanto crianças como crentes adultos está confusa sobre o batismo. Pessoas que tomam a sério o batismo deveriam ir para uma igreja que SOMENTE batiza pessoas que são consideradas adequadamente (biblicamente, teologicamente) elegíveis ao batismo conforme a teologia do batismo.

Aos calvinistas nas denominações teologicamente-historicamente não-calvinistas digo: “Saiam do meio deles e se separem!” Ou, pelo menos “respeitem o ethos teológico-histórico da sua denominação e não use do seu calvinismo  para tentar muda-la em algo que ela nunca foi”. Diria a mesma coisa para arminianos (se houver algum) em denominações teologicamente-historicamente calvinistas.







Fonte: Patheos.com


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Comentários

  1. Luis, ótimo artigo. De fato o pentecostalismo está completamente despreparado para lidar com o assédio calvinista. Como os pentecostais [ essa tem sido a regra ] são indispostos a formulações doutrinárias abrangentes, ficam a mercê dos ataques contemporâneos que se voltaram de forma clara e objetiva para o pentecostalismo.

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  2. Algo que me deixa inquieto é que o pentecostalismo é tradicionalmente avesso ao calvinismo, me lembro ter aprendido na EETAD que era uma heresia dizer que uma vez salvo sempre salvo e muito mais a expiação limitada. Acho que a falta dessas formulações seria resolvida com um ensino teológico de qualidade, mas estamos falando de Brasil onde o problema na educação não é novidade.

    Vamos continuar a nossa empreitada e ver se conseguimos abrir os olhos dos irmãos que detém a capacidade efetiva para mudar essa situação.

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  3. Nesse texto você expressa muito a sua opinião sem artigos ou argumentos para comprovar, isso me deixa confuso com a preferência de não acreditar. E quanto ao final, muito estranho.. Por que os'' Calvinista e Arminianos devem se separar? um está errado e, o certo não deve mostrar o certo para quem faz o errado? Ou devem deixar que pereçam? ' Foi essa a ordem de Jesus? Onde está isso? Texto incrível, mas tem problema igual o outro que eu li, maturidade, pare de focar em suas opiniões, foque no que Jesus diz e apresente isso para nós! Eu no meu caso, só assim irei confiar em algum texto seu.

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  4. Olá Hoggo!

    O artigo não é meu, mas do teólogo arminiano Roger Olson. A questão é que ele não precisa provar algo que é um fato que está acontecendo nos EUA, talvez você por não estar muito atualizado com os acontecimentos da igreja norte-americana tenha ficado com suspeitas sobre a veracidade deste acontecimento.

    Calvinistas e arminianos devem manter certa distância para que não haja mais divisão denominacional no protestantismo, é isto que o Olson quer dizer. Imagine se cada denominação tivesse uma réplica contrária: uma presbiteriana calvinista, outra arminiana; uma assembleia de Deus arminiana, outra calvinista etc.

    Não há nada de errado no debate teológico arminiano-calvinista. Porém, o que se vê hoje são calvinistas calvinizando igrejas arminianas causando divisões denominacionais (nos EUA isto está acontecendo com os batistas do sul, no Brasil com a Assembleia de Deus).

    O Dr. Olson é um homem bem focado e maduro.

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