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Alguns Comentários Bons e Concisos sobre Livre-Arbítrio, a Escravidão do Pecado, e Graça Previniente


Alguns Comentários Bons e Concisos sobre Livre-Arbítrio, a Escravidão do Pecado, e Graça Previniente

Em geral, os seguintes comentários de F. Leroy Forlines são uma excelente representação do ponto de vista arminiano:

Liberdade de escolha é uma liberdade dentro de um quadro de possibilidades. Ela não é uma liberdade absoluta. O homem não pode ser Deus ou um anjo. O arbítrio do ser humano está num quadro de possibilidades provido por sua natureza humana. Além disso, a influência exercida sobre a sua vontade tem impacto no quadro de possibilidades.


Antes de Adão e Eva pecarem, era dentro deste quadro de possibilidades que eles atuavam para permanecerem na prática da justiça completa, ou para cometerem pecado. Após pecarem, eles já não permaneceriam dentro do quadro de possibilidades para a prática ininterrupta da justiça. O mesmo acontece com o homem agora (Rm 8.7-8). Se alguém [toma] a liberdade de escolha para dizer que uma pessoa não convertida poderia praticar a justiça e não pecar, ela desconhece o significado de liberdade de escolha para seres humanos caídos. Romanos 8.7-8 deixa claro que a Escritura não ensina isso.


Jesus deixa claro que não se enquadra dentro do quadro de possibilidades de um pecador o responder ao evangelho sem ser atraído pelo Espírito Santo (Jo 6.44). A influência do Espírito Santo operando no coração da pessoa que escuta o evangelho traz um quadro de possibilidades no qual ela pode dizer sim ou não ao evangelho. Se ela disser sim, é sua escolha. Se ela disser não, é sua escolha. A menor questão que pode se levantar é sobre a existência de uma personalidade real após a queda. Se um ser humano não é, em certo sentido, um ser autossuficiente, ele ou ela não é uma pessoa. Às vezes, a autossuficiência pode ter um grau de dependência, mas ainda é autossuficiência. Como já ficou claro, não estou sugerindo que o homem caído pode escolher Cristo sem a ajuda do Espírito Santo. De fato, rejeito veementemente tal ideia. Entretanto, estou dizendo que não importa o quanto ou quão forte a ajuda do Espírito Santo pode ser, o dizer “sim” ainda é uma decisão que bem pode ser chamada de uma decisão pessoal. Afinal, alguém pode dizer não...


A fé pode ser chamada de dom no sentido de que ela não poderia ter sido possível sem a ajuda divina. Ela não é um dom no sentido de que ela existe fora da pessoa e lhe é dado, nem é um dom no sentido de que Deus crê para a pessoa. A própria pessoa crê através da ajuda divina.


Creio que o calvinismo erra em sua compreensão de ‘mortos em ofensas’. Cornelius Van Til expõe a interpretação calvinista:


Foi apenas como uma criatura de Deus, feita à sua imagem, que o homem poderia pecar. Assim, quanto um pecador, 'morto em suas ofensas', incapaz dele mesmo estender as suas mãos para receber a salvação, as Escrituras continuam lidando com ele como um ser responsável. Ele é chamado para a fé e arrependimento. Até a fé é dom de Deus. Lázaro estava morto na tumba até Jesus lhe dizer para sair. E ele saiu.


A interpretação acima entende 'morto' em 'morto em ofensas' (Ef 2.1) como sem vida. O corpo de Lázaro não tinha vida. Ele estava incapaz de agir até que Jesus lhe revivesse. Se 'morto em ofensas' significa morto nesse sentido, então, segue-se a lógica do calvinismo. O pecador seria surdo e mudo. Ele não poderia conhecer qualquer coisa sobre Deus, pecado e salvação até que Deus lhe revivesse através do novo nascimento. Então, e só então ele seria capaz de ouvir e falar.


Creio que 'morto em delitos e pecados' ou morte espiritual significa que o homem está separado de Deus, morto para Deus. Portanto, sem comunhão e intimidade com Deus. O princípio é semelhante ao que Paulo expôs quando disse, "Mas... o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo." (Gl 6.14). Tanto Paulo quanto o mundo estavam vivos no sentido de que eles não estavam sem vida. Porém, não estavam vivos na medida em que uma relação funcional entre eles era concernente.


A morte espiritual, se esta for a interpretação correta, refere-se ao fato que o pecador está cortado da comunhão e intimidade com Deus. Ambas as coisas são verdade, pois um Deus santo requer que seja assim até que o pecado seja tratado e também porque a inclinação do coração do pecador é contra Deus. O fato do pecador não ter comunhão com Deus não significa que ele está totalmente surdo à comunhão com Deus. Se este for o caso, o pecador jamais poderia distorcer a mensagem de Deus. Você não poderia distorcer aquilo para o qual está totalmente surdo. O que torna uma pessoa pecadora não é a má audição. O pecador tende a resistir e opor-se a Verdade além de distorcê-La. O evangelho tem que progredir contra uma grande oposição. O Espírito Santo deve operar antes a fim de possibilitar uma comunicação bem sucedida do evangelho ao pecador, antes mesmo da sua convicção e resposta. Esta abordagem reconhece a gravidade do pecado, a necessidade de iluminação e poder do Espírito Santo, e a personalidade do pecador.


Creio que a fé salvadora é dom de Deus no sentido que o Espírito Santo dá a capacitação divina sem a qual a fé em Cristo seria impossível (Jo 6.44). A diferença entre o conceito de fé calvinista e o meu conceito de fé não é que o seu é monergista e o meu é sinergista. Em ambos os casos é sinergista. A participação ativa na fé pelo crente significa que deve ser sinergista. A resposta humana não pode ser excluída da fé. Justificação e regeneração são monergista. Estes são atos de Deus, não do homem. Fé é um ato humano por capacitação divina e, portanto, não pode ser monergista.



F. Leroy Forlines, The Quest For Truth: Answering Life’s Inescapable Questions, 158-160 pp.


Fonte: Society of Evangelical Arminians

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